Conheça as variações anuais entre bairros na participação da demanda por imóveis anunciados em nossos portais nas cidades Rio de Janeiro (RJ) e Osasco (SP).
Sinalizações conflitivas e indefinições
Na última carta de 2022, falamos de resiliência do mercado de compra e venda residencial, afinal, apesar da escalada da taxa Selic e, consequentemente, das taxas de financiamentos imobiliários, o nível de concessão de crédito imobiliário (e outros indicadores da transação de venda) continuam acima do patamar médio de 2020. Para ajudar quanto às magnitudes, quando olhamos para séries de financiamento, 2022 só perde para 2021. Mas esta resiliência não é irrestrita.
Ainda faltam os dados dos últimos meses, mas 2022 com certeza se consolidará de forma a registrar recuo do nível de atividade de compra e venda residencial em relação ao ano anterior. O persistente bom patamar se deve ao ótimo desempenho de 2021. A tendência para 2023 é que o esfriamento continue, pelo menos no primeiro semestre.
Para encurtar o inverno e suavizar essa queda, é necessária a diminuição das taxas de juros. Para isso acontecer de forma sustentável, há uma condição necessária para a qual os olhos dos analistas estão atentos por ser o início de um novo governo: a sustentabilidade fiscal. Se o governo não sinalizar com credibilidade que conseguirá estabilizar as contas do país no longo prazo, a Selic será pressionada a subir para equilibrar os mercados de crédito. Outra dimensão do mesmo problema é que os gastos no curto prazo aumentam a demanda, o que reflete na inflação. O remédio para inflação são doses mais caras de Selic, como o que tem acontecido desde 2021.
Neste sentido, as declarações do governo têm sido conflitivas. Por um lado, a tecnocracia do governo tem expressado maior preocupação com o tema e indicado caminhos que ajudariam a antecipar o ciclo de queda da Selic. Por outro, quando o tom político se sobrepõe ao ambiente técnico, a sinalização é de preterir os fundamentos para a sustentabilidade fiscal em busca de maior crescimento econômico de curto prazo.
Embora seja cedo para traçar um cenário para o restante do ano, o lado fiscalmente responsável ganhou força e embasamento nos últimos dias. Por enquanto, esperamos que esse movimento continue, que o arcabouço de política monetária não sofra interferência do governo e que o conjunto de políticas fiscais tome forma nos próximos meses, o que possibilitaria a retomada do nosso segmento no 2º semestre. Até lá, resta o acompanhamento das definições do governo, esperando sinalizações mais claras para aliviar as incertezas.